sábado, 3 de março de 2012

Lutas, Artes Marciais e Esportes de Combate nos cursos de Ensino Superior de Educação Física

As Lutas/Artes Marciais e os Campos de Atuação Profissional e Acadêmico-Científico em Educação Física


          A busca por serviços relacionados às atividades motoras das Lutas tem ocorrido: (a) no ambiente escolar - como estratégia para atingir os fins da Educação Física Escolar; (b) no ambiente não escolar - nas academias, clubes e condomínios, essas atividades têm sido praticadas seja para aquisição do domínio técnico de determinadas lutas ou como meio para obtenção de condicionamento físico; (c) no esporte - há uma demanda por profissionais que atuem com as modalidades competitivas de lutas nos aspectos de preparação orgânica e funcional de atletas, organização e promoção de eventos e preparação técnica e tática.


          A disciplina de lutas/artes marciais no currículo de Educação Física deve oportunizar contatos com as indiferentes implicações das lutas, além de abordar alguns temas transversais diretamente associados (violência, cultura). A incorporação do estudo da Luta no Ensino Superior em Educação Física tem-se como relevante sob dois aspectos: (1) da Licenciatura (formação dos professores),  uma vez que a luta, como manifestação cultural e expressão corporal, é componente a ser desenvolvido na escola; (2) da Graduação (Bacharelado) em Educação Física e Esporte, onde se devem incorporar vários itens nessa formação, como:

  • Definições
  • Classificações das lutas
  • História da luta
  • Cronologia e Desenvolvimento
  • A inserção da luta na escola
  • Lesões desportivas nas lutas
  • Aspectos da perda de peso em lutadores
  • Aspectos psicológicos
  • Tópicos de preparação física
  • Princípios de aprendizagem 
  • Bases biomecânicas

As Lutas nos Cursos de Ensino Superior em Educação Física

          A preparação profissional passa por uma clara definição do perfil profissional a ser atingido, o qual está diretamente associado às necessidades sociais e às características do mercado de trabalho. Essa preparação depende basicamente: (1) dos conhecimentos disponíveis para serem transmitidos aos futuros profissionais e (2) da formação dos docentes dos Institutos de Ensino Superior, que têm a responsabilidade de difundi-los discentes (TANI, 1996), de maneira a prepará-los para o mercado de trabalho. Dessa forma é preciso identificar que a formação será direcionada para a Educação Física Escolar, Educação Física Não Escolar ou Esporte. 

          Quanto ao conhecimento sobre as lutas, embora muito ainda tenha que ser investigado, já existem muitos estudos sobre elas, inclusive com algumas revisões (COX, 1993, por exemplo). Uma busca por Teses e Dissertações produzidas em universidades brasileiras revelou um número pequeno sobre o perfil dos docentes de disciplinas voltadas para as lutas/artes marciais. Mesmo que todos aqueles que tenham tido esta disciplina como tema central em seus estudos de pós-graduação e que atuem nessa área, o número é insuficiente para atender ao número de cursos que oferecem essa matéria. Contudo, a maior parte dos docentes teve contato direto com as lutas na qualidade de praticante, onde essa caraterística ameniza o problema do domínio dos conhecimentos específicos. O maior problema dessa característica é que estes docentes podem dar o direcionamento dessa disciplina para um único estilo ou modalidade de luta (o qual tiveram maior contato).

As vivências práticas no ensino das disciplinas de lutas/artes marciais no curso de Educação Física

          A principal crítica às disciplinas que pertencem ao bloco "Disciplinas de Orientação às Atividade" é a de que o conteúdo tem sido constituído essencialmente de atividades motoras próprias do esporte, e não de conhecimentos estruturados acerca dessas atividades. Nas disciplinas voltadas às lutas/artes marciais esse problema parece ser ainda mais grave, pois embora as lutas tenham inúmeras diferenças em seus estilos, muitas vezes é ofertado apenas um tipo de atividade. Portanto, somam-se aos problemas típicos a "especialização" em apenas um tipo de luta. 
          Na mesma disciplina, o graduando é levado a praticar/"aprender" um determinado tipo de habilidade do estilo escolhido. Tani (1996) tem rechaçado os argumentos dados para a manutenção desse tipo de "aula prática": (1) é possível aprender esses movimentos no período da disciplina; (2) saber executar é importante para poder ensinar. Com relação às lutas, a rejeição dessas ideias, principalmente da primeira, é ainda mais forte, pelos seguintes aspectos: (1) o domínio desse tipo de técnica leva de 5-10 anos com frequência prática de três a cinco vezes por semana, enquanto esse tipo de disciplina é abordado em no máximo 8 meses por duas aulas semanais (100 minutos/semana); (2) apenas uma parcela reduzida dos alunos de Educação Física irá atuar especificamente com o ensino exclusivo de habilidades das lutas. Portanto, seria mais importante que o graduando aprendesse a utilizar as lutas/artes marciais como estratégia para atingir o objetivo do programa de educação física, em vez de executar técnicas específicas de um único estilo.

           Em decorrência disso, as vivências práticas nas disciplinas de lutas deveriam ser direcionadas para a prática de intervenção supervisionada. Nessa ação, parte dos graduandos tentaria ensinar um determinado movimento, parte executaria e parte analisaria, juntamente com o responsável da disciplina.

         Tani (1996; p.12) acrescenta que "em princípio, é possível dizer que um profissional possuidor de conhecimentos teóricos devidamente integrados às habilidades pessoais terá maior facilidade para trabalhar. Entretanto, essa relação conhecimento-habilidade pode variar de acordo com o segmento profissional em que se vai atuar". Exemplificando esses aspectos, pode-se dizer que ao utilizar as habilidades típicas das lutas como estratégia de uma aula de Educação Física escolar, o grau de domínio de execução técnica do professor poderá ser muito menor do que ao de um profissional de Educação Física que ensina caratê em um clube. 


Conclusão 

            Tendo em vista a importância das lutas no contexto cultural e motor e, em decorrência disso, a necessidade de formação profissional para uma melhor intervenção nesse segmento, a disciplina sobre essa temática no curso de preparação profissional em Educação Física e Esporte deve possibilitar aos alunos os seguintes conteúdos mínimos: (1) origem e desenvolvimento; (2) classificações e caracterizações; (3) progressões pedagógicas em âmbito escolar; (4) relações entre o sistema CREF/CONFEF e profissionais não formados; (5) especificidades das lesões desportivas e profilaxias, assim como ao (6) treinamento desportivo aplicado. 

            É da opinião de autores que: (1) não se pode assumir a prática isolada de poucas modalidades na esfera universitária; (2) a abordagem nas aulas denominadas "práticas" dos cursos de Educação Física deve ser a de "prática da intervenção supervisionada".


Referência: DEL VECCHIO, Fabrício Boscolo; FRANCHINI, Emerson. Formação Profissional em Educação Física: Estudos e Pesquisas. Lutas, Artes Marciais e Esportes de Combate: Possibilidades, Experiências e Abordagens no Currículo da Educação Física. Biblioética Editora: Rio Claro, 2006.

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